A ansiedade em nossos tempos

Publicado dia 23 de junho de 2020
Por Lisa Louzinha
A sociedade moderna desencadeou um surto de desordens mentais. Estamos nos intoxicando digitalmente. Dialogamos com o mundo de fora, mas não temos tempo de dialogar com nosso mundo de dentro. Não há tempo para olhar, com lucidez, para as nossas angústias e inseguranças.
 
Talvez esse seja o motivo dessa nova geração não ser tão alegre como foi prospectada. Temos a geração mais triste até hoje observada.
Por que tanta ansiedade?
Medo e angústia são inerentes ao ser humano, mas não estamos sabendo lidar com eles.
Distúrbios mentais comuns estão aumentando no mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo inteiro, e o quinto em casos de depressão. Conforme levantamento da OMS, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população.
Estamos ficando muito doentes. As estatísticas mostram que as pessoas, cada vez mais, desenvolvem quadros depressivos ao longo da vida. Encontram-se muito aceleradas, com pensamentos acelerados e descontrolados. O pensamento acelerado transforma um ser humano brilhante e ousado em um ser humano opaco, encarcerado pela rotina e refém de sua própria ansiedade.
Quem pensa descontroladamente gasta sua energia emocional inutilmente, esgota suas emoções e seu cérebro, causando dores de cabeça, dores musculares, taquicardias e aquela sensação de nó na garganta. Esses são sinais de que o cérebro não está suportando o nível de ansiedade.
Tais sinais de alerta apontam nosso processo de falência física e emocional. Nossa mente está ligada 24 horas por dia e a qualidade do sono está comprometida, o que significa que gastamos inutilmente energia até durante o sono e desta forma acordamos cansados. Precisamos estar atentos aos nossos avisos internos e mudar nosso estilo de vida.
Ansiedade e depressão infantil
As crianças também sofrem de ansiedade, e a depressão infantil está aumentando em todo o mundo. A OMS revelou que o transtorno depressivo é a principal causa de incapacidade de realização das tarefas do dia a dia entre jovens de 10 a 19 anos. No Brasil não é diferente. Estima-se que a incidência do distúrbio gire em torno de 1 a 3% da população entre 0 a 17 anos, o que significa, mais ou menos, 8 milhões de jovens.
A agenda deles está sempre lotada de compromissos, o que eleva o grau de estresse. A grande maioria das crianças está agitada, com hiperatividade, sendo erroneamente diagnosticada e, por consequência, tomando drogas prescritas que seriam desnecessárias. Boa parte delas precisa apenas desacelerar, ter menos atividades para ter tempo de brincar e viver uma infância verdadeira, viver situações que as habilitem a elaborar suas contrariedades.
Resiliência, medo, perdas, contrariedades e frustrações são necessárias para propiciarem a superação de obstáculos da vida. Fracassar faz parte. Tudo tem o seu tempo de maturação. O acerto virá com a persistência. Você usa suas derrotas para planejar suas vitórias?
A hora do diálogo interior
O nosso organismo sempre procura a homeostase, e esse equilíbrio está diretamente ligado à capacidade de desacelerarmos. Tendemos a permanecer como uma máquina de trabalhar e de criar atividades, mas quando algo ou alguém nos confronta, pode ser a oportunidade para desacelerar.
Todos nós temos excesso de dados armazenados e passamos a depender de muito estímulo para sentirmos um pouco de prazer. Vítimas da nossa própria ansiedade, acabamos seguindo um roteiro pré-definido no momento de tomar atitudes e decisões familiares, profissionais e sociais. Encontramos dificuldade em produzir novas ideias e acabamos adotando sempre os mesmos padrões já existentes. Devemos atuar todos os dias dentro de nós para estabilizarmos nossas emoções. Precisamos aprender a ficar sós, sem fazer nada, no íntimo de nossa própria consciência.
Dialogar consigo mesmo é a primeira das ferramentas para o ser humano começar a se entender. A partir daí, encontramos meios para diminuir nossos pensamentos acelerados, controlar a preocupação com o futuro, administrar a nossa grande expectativa por reconhecimento e outras atitudes semelhantes. Só assim conseguiremos nos reorganizar e obter um equilíbrio mental saudável.
Nessa luta, temos como aliada a psicanálise, por ser uma ferramenta que nos leva ao entendimento da dor e do sofrimento psíquico.